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Bolívia em crise elegerá presidente entre dois candidatos de direita
Bolívia em crise elegerá presidente entre dois candidatos de direita / foto: Rodrigo URZAGASTI - AFP

Bolívia em crise elegerá presidente entre dois candidatos de direita

Duas propostas de direita para um país em crise: os bolivianos elegerão, neste domingo (19), em segundo turno um presidente que marcará o fim de 20 anos de governos de esquerda com a missão de recuperar uma economia em crise.

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Sem dólares ou combustíveis e com uma inflação em 12 meses que ultrapassa os 23%, os eleitores deixaram para trás no primeiro turno o Movimento ao Socialismo (MAS), liderado por Evo Morales.

Suas opções para domingo são o líder de centro-direita Rodrigo Paz, favorito inesperado no primeiro turno, e o ex-presidente liberal Jorge Quiroga.

Assim terminará uma era iniciada por Morales em 2006 e que será encerrada por seu sucessor e hoje adversário Luis Arce, um ciclo que passou da bonança proporcionada pela nacionalização do gás à queda dramática da produção que praticamente secou a fonte de divisas.

Hoje são comuns as longas filas nos postos de gasolina ou para se abastecer de arroz ou óleo subsidiados na pior crise em quatro décadas enfrentada por este país de 11,3 milhões de habitantes, rico em lítio.

"Há um desespero, a maioria das pessoas vive do dia a dia (...). Aqui não vai dar em nada bom", diz Pamela Roque, instrumentadora cirúrgica de 29 anos que está considerando emigrar pela falta de emprego.

Com 44,9%, Quiroga lidera a intenção de votos à frente de Paz (36,5%), segundo uma pesquisa publicada no domingo (12) pela Ipsos-Ciesmori.

"Com qualquer uma das duas (propostas), se não derem soluções rápidas, o custo social e o risco" de protestos "serão altos", diz à AFP a cientista política Ana Lucía Velasco.

- A busca por dólares -

O governo de Arce, que deixará o poder em 8 de novembro, quase esgotou sua reserva de dólares para sustentar uma política universal de subsídios aos combustíveis.

Seu sucessor receberá uma economia em recessão, segundo a projeção do Banco Mundial.

Quiroga, engenheiro de 65 anos formado nos Estados Unidos, propõe injetar 12 bilhões de dólares (R$ 65,5 bilhões, na cotação atual) através de empréstimos com organismos multilaterais.

O candidato da Aliança Livre garante que, em três meses, as divisas retornarão ao sistema financeiro, que hoje não pode devolver seu dinheiro aos poupadores.

"Os dólares vêm de fora. Se isso não for feito, não há solução", sustenta.

Rodrigo Paz, economista de 58 anos e filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993), propõe, em vez disso, reestruturar primeiro os orçamentos do Estado antes de mais déficits. A dívida externa da Bolívia gira em torno de 30% do PIB.

"O problema é (...) pedir crédito sem organizar a casa (...). Outro está indo estender a mão, esperando que chegue o dinheiro em condições muito duras", disse.

Ambos propõem manter os subsídios aos combustíveis apenas para o transporte público e setores vulneráveis, além de manter programas sociais e bônus.

"Não confio em nenhum dos dois (...). O que eles me dão? O salário que tenho não é suficiente para nada", conta à AFP Jorge Serrano, um ex-construtor de 73 anos.

Quiroga e Paz suavizaram a severidade de seus planos originais para evitar considerar um choque econômico.

Segundo Velasco, não se pode manter subsídios e bônus e estabilizar a economia ao mesmo tempo. "As pessoas têm suas esperanças depositadas em promessas eleitorais muito difíceis de cumprir ou talvez impossíveis", acrescenta.

- A sombra de Morales -

O Partido Democrata Cristão liderado por Paz terá o maior número de senadores e deputados, mas sem assegurar a maioria. A Aliança Livre será a segunda força.

Fora do Congresso, enfrentarão a oposição de Evo Morales, que governou o país em três ocasiões entre 2006 e 2019 e que ficou fora da eleição por uma decisão constitucional, visto que é alvo de uma ordem de detenção por um caso de suposto abuso de menor quando era presidente, acusação que ele nega.

Morales incentivou o voto nulo no primeiro turno.

Uma parte da população, sobretudo indígena, poderia agora não se sentir representada nem no governo nem no Parlamento.

"As pessoas estariam dispostas a aceitar um governo de direita se ele puder gerir bem a economia, mas se abrigar pessoas com discursos racistas (...) não vão perdoar", comenta Velasco.

D.Richter--MP