

Hamas entrega a Israel outro corpo de refém e promete devolver todos os demais
O movimento islamista palestino Hamas entregou a Israel os restos mortais de mais um refém nesta sexta-feira (17), depois de insistir em seu compromisso de devolver todos os cativos mortos que ainda não foram encontrados sob as ruínas de Gaza após dois anos de guerra.
"Israel recebeu, por intermediação da Cruz Vermelha, o caixão com um refém morto que foi devolvido" a suas forças de segurança em Gaza e que será identificado em um centro de análise de medicina forense em Israel, disse o gabinete do primeiro-ministro em comunicado.
Acusado por Israel de violar os termos da trégua implementada em 10 de outubro, o Hamas pediu mais tempo diante das dificuldades de encontrar e retirar os corpos dos escombros do território palestino.
"O processo de restituição dos corpos dos prisioneiros israelenses pode levar algum tempo", anunciou no Telegram o grupo, que governa Gaza desde 2007.
O movimento islamista aproveitou o fim dos combates para tentar retomar o controle do território e, na terça-feira, anunciou as execuções de vários homens que apresentou como "colaboradores" de Israel.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou o grupo na quinta-feira. "Se o Hamas continuar matando gente em Gaza, o que não estava previsto no acordo [para um cessar-fogo com Israel[, não teremos outra opção senão ir e matá-los", escreveu na rede Truth Social.
O acordo de cessar-fogo promovido pelo presidente americano estabelecia que o retorno dos reféns vivos e mortos deveria acontecer até 12h00 (6h00 de Brasília) de segunda-feira, 72 horas após o início do cessar-fogo.
O movimento islamista libertou a tempo os últimos 20 reféns vivos, mas entregou apenas os corpos de nove falecidos, dos 28 que se comprometeu a devolver a Israel.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu afirmou na quinta-feira que está "determinado" a recuperar todos os cadáveres. Um dia antes, o ministro da Defesa, Israel Katz, ameaçou retomar os combates em Gaza.
Trump pediu paciência: "É um processo macabro [...] mas estão cavando, cavando de verdade" e "encontram muitos corpos", afirmou na quarta-feira.
Em seu comunicado, o Hamas reiterou o "compromisso" com o cessar-fogo e a devolução dos restos mortais, mas afirmou que recuperar os corpos restantes requer equipamentos especiais.
A Turquia enviou uma equipe de especialistas em buscas de corpos em zonas de desastre para ajudar a localizar os reféns, mas eles permanecem na fronteira egípcia aguardando a autorização israelense para entrar em Gaza, informou à AFP uma fonte turca.
A equipe de 81 profissionais possui ferramentas especializadas e cães treinados para procurar corpos.
Uma fonte do Hamas disse à AFP esperar que a equipe turca entre em Gaza no domingo, quando está prevista a abertura da passagem de fronteira.
A Defesa Civil de Gaza, sob a autoridade de Hamas, informou que foram recuperados mais de 280 corpos entre os escombros desde o início do cessar-fogo.
- Acesso restrito -
Em troca do retorno dos restos mortais dos reféns, Israel devolveu os corpos de 120 palestinos, 30 deles para Gaza, informou o Ministério da Saúde do território palestino.
Na quinta-feira, a principal associação de parentes dos sequestrados pediu ao governo israelense que "interrompa imediatamente a implementação de qualquer etapa adicional do acordo" até que todos os corpos dos reféns sejam devolvidos.
O acordo de trégua prevê o acesso de ajuda pela passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, algo que a ONU e outras organizações humanitárias pedem com insistência.
Os acessos a Gaza, todos controlados por Israel, continuam muito restritos.
Gideon Saar, titular da pasta das Relações Exteriores israelense, mencionou uma possível reabertura no domingo.
No fim de agosto, a ONU declarou um cenário de fome em vários pontos de Gaza, uma avaliação que Israel rejeita.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU indicou que conseguiu entrar com cerca de 3 mil toneladas de comida em Gaza desde o início da trégua. Contudo, alertou que remediar a situação de fome "levará tempo".
"Atualmente, dispomos de cinco pontos de distribuição operacionais, mais próximos da população [...]. Nosso objetivo é implementar 145, para inundar Gaza de comida", disse a porta-voz do PMA, Abeer Etefa.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também alertou que as epidemias no território estão "fora de controle" porque o sistema de saúde "foi desmantelado".
Na primeira fase, o plano de Trump prevê o cessar-fogo, a troca de reféns por prisioneiros palestinos, uma retirada israelense de vários setores e a entrada de ajuda humanitária em Gaza.
As etapas posteriores devem incluir um desarmamento do Hamas, a anistia ou desarmamento de seus membros e a retirada completa de Israel, mas os pontos ainda estão em negociações.
A ofensiva de represália israelense deixou mais de 67.967 mortos em Gaza, também civis em sua maioria, segundo os números do Ministério da Saúde do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
G.Loibl--MP