Trump mantém o mundo em suspense com surpreendente ordem de testes nucleares
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reiterou nesta sexta-feira (31) sua intenção de realizar testes com armas nucleares, mas novamente não esclareceu se fazia referência a explosões reais, em uma ordem que provocou tensão e confusão em nível mundial.
Quando um jornalista da AFP lhe perguntou se ele se referia à realização de explosões nucleares subterrâneas pela primeira vez nos Estados Unidos desde 1992, Trump respondeu aos repórteres a bordo do Air Force One: "Não vou dizer".
"Vocês saberão muito em breve, mas vamos fazer alguns testes, sim, e outros países também fazem. Se eles vão fazer, nós também faremos", afirmou durante a viagem para passar o Halloween em seu clube de golfe na Flórida.
Nenhum país, além da Coreia do Norte, realizou testes de explosivos nucleares nas últimas décadas. A Rússia e a China não realizam esses testes desde 1990 e 1996, respectivamente.
Como de costume, Trump recorreu às redes sociais para fazer seu surpreendente anúncio de que os Estados Unidos retomariam os testes nucleares. E o fez na quinta-feira, minutos antes de se reunir com seu par chinês, Xi Jinping, na Coreia do Sul.
A decisão do republicano causou um terremoto mundial. O Irã, rival ferrenho dos Estados Unidos, declarou que essa medida "irresponsável" representa "uma ameaça à paz e à segurança internacionais".
O anúncio ocorreu após a Rússia afirmar ter testado um novo míssil de cruzeiro de propulsão nuclear, o Burevestnik, e um drone submarino com capacidade nuclear.
O Irã, cujo polêmico programa nuclear foi bombardeado pelas forças americanas por ordem de Trump no início deste ano, classificou a diretriz como "retrógrada e irresponsável".
O ministro iraniano das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, referiu-se a Trump como "um valentão armado com armas nucleares" que "demonizou o pacífico programa nuclear iraniano".
– "Bastante responsável" –
O grupo japonês Nihon Hidankyo — formado por sobreviventes das bombas nucleares lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki — considerou que a medida "contradiz diretamente os esforços das nações em todo o mundo que buscam um mundo pacífico sem armas nucleares, e é totalmente inaceitável".
Em meio à preocupação internacional e à de alguns membros do Congresso americano, o secretário de Defesa de Trump, Pete Hegseth, afirmou que o Pentágono estava agindo "com rapidez" para cumprir as ordens do presidente e que realizar os testes era algo "responsável".
"O presidente foi claro: precisamos de uma dissuasão nuclear crível", declarou a jornalistas em Kuala Lumpur.
"Retomar os testes é uma maneira bastante responsável de conseguir isso. Acredito que reduz a probabilidade de um conflito nuclear", acrescentou.
Mas o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, instou os Estados Unidos a "cumprirem rigorosamente" os acordos que proíbem os testes nucleares.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, declarou por meio de um porta-voz que "os testes nucleares jamais podem ser permitidos sob nenhuma circunstância".
Washington assinou em 1996 o Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares, que veda os ensaios tanto com fins militares quanto civis.
- Rússia responde -
A Rússia rejeitou a ideia de que seus recentes testes de armamentos justifiquem a decisão de Trump e questionou se o presidente americano está bem informado sobre suas atividades.
Os recentes exercícios com armas "não podem ser interpretados de forma alguma como um teste nuclear", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. "Esperamos que a informação tenha sido transmitida corretamente ao presidente Trump".
O Kremlin ainda insinuou que a Rússia poderia realizar seus próprios testes de detonação se Trump o fizer primeiro.
Os Estados Unidos realizaram 1.054 testes nucleares entre 1945 e 1992 e são o único país que já utilizou esse tipo de arma. Lançou duas bombas atômicas em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.
O último teste com explosão realizado pelos Estados Unidos foi em setembro de 1992.
Um mês depois, o então presidente americano George H. W. Bush decretou uma moratória sobre novos testes. Uma decisão mantida pelas administrações seguintes, inclusive pelo primeiro governo de Trump (2017-2021).
Os testes nucleares foram substituídos por simulações computacionais avançadas.
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O.Braun--MP